Na era do dinheiro de plástico, o velho fiado ou a compra na caderneta ainda resiste e tem participação expressiva no dia-a-dia dos brasileiros. Pesquisa da LatinPanel com 8,2 mil famílias revela que 21,6% delas pagaram alguma conta usando o fiado ou a caderneta durante este ano. O uso do fiado pelas famílias é praticamente o mesmo do cartão de débito, que chegou a 22,8% no mesmo período.
A pesquisa, que acompanha semanalmente os hábitos de compra de 82% dos domicílios no País, mostra também que o uso do fiado não se restringe à baixa renda. O Interior do Estado de São Paulo, o segundo mercado consumidor do Brasil, é a região do País onde o fiado é mais frequente. Entre janeiro e abril deste ano, 28,9% das famílias que moram no Interior de São Paulo usaram esse meio de pagamento. Em seguida, estão regiões com menor poder aquisitivo, a Leste, que inclui Espírito Santo, Minas Gerais e o interior do Rio de Janeiro, com 28,2% das famílias usando fiado, e a Norte e Nordeste, com 25,9%.
“O uso do fiado não está atrelado apenas às famílias e às regiões de menor renda, mas reflete a conveniência de comprar hoje e pagar depois. É uma questão de relacionamento entre as pessoas que é mais forte nas cidades do interior”, afirma a diretora de Varejo da LatinPanel, Fátima Merlin.
Ela reforça essa análise com outro dado apontado pela pesquisa: o fiado está presente em todas as classes sociais. Mas o maior uso dessa forma de pagamento foi registrado pela enquete nas famílias das classes D/E (26,2%); seguidas pelas da classe C (21,9%) e pelas das A e B (12,6%).
O microempresário José Luiz Cancelieri, dono da cafeteria Doce Café, em Pinheiros, em São Paulo, conta que entre 10% e 12% do que vende é pago pelo cliente 15 dias depois.
A amizade entre o microempresário e seus clientes é o principal motivo apontado por Cancelieri para vender lanches na caderneta. A maioria das empresas da região onde fica a sua lanchonete tem funcionários terceirizados, observa. “Eles ganham pouco. Quando chega o dia 20, o tíquete-refeição acaba. Faço isso para ajudá-los.”
Apesar da boa vontade de Cancelieri, ele ressalta que está atento para a inadimplência dos cerca de 50 clientes que compram na caderneta. “Não facilito o pagamento para pessoa que não conheço ou não sei a empresa onde trabalha.” Se o freguês pede vários lanches, ele logo desconfia. “Não precisa ser um valor altíssimo, mas fico em cima.”
Apesar desses cuidados, o calote do fiado oscila entre 2% e 3%. Desde o fim do ano passado, com a piora da situação da economia e muitas dispensas, a inadimplência do fiado aumentou. “Quando são demitidos, alguns não lembram de pagar a conta no seu Zé”, brinca.
Fonte: Assessoría de Imprensa