Você já ouviu falar em colelitíase? Na realidade, esse é o nome dado ao diagnóstico de pedras na vesícula biliar – uma espécie de “bolsa” que armazena a bile, antes desse líquido atuar no processo digestivo dos alimentos, principalmente das gorduras, realizado pelo intestino.
Existem vários fatores relacionados ao risco de apresentar pedras na vesícula, como a idade (a freqüência aumenta com o processo de envelhecimento), gravidez, obesidade, sexo (mais freqüente em mulheres), terapia de reposição hormonal e níveis altos de triglicérides no sangue.
Uma pessoa pode ter pedra na vesícula biliar e não saber, pois não apresenta quaisquer sintomas. A “descoberta” do problema acontece, normalmente, durante exames de rotina. “A cólica biliar, um tipo de dor constante, que se localiza na região superior direita do abdome, é o sintoma mais freqüente das pessoas que apresentam pedra na vesícula. Essa dor é, quase sempre, acompanhada de náuseas”, explica Dr. Vladimir Schraibman, especialista em cirurgia geral, gastrocirurgia e único orientador de Cirurgias Robóticas da área de Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo do Hospital Israelita Albert Einstein (Proctor Intuitive Robotic System). O especialista esclarece, nessa entrevista, várias questões sobre essa doença.
Qual é a função da vesícula em nosso organismo? Qual é o seu tamanho e localização?
A função da vesícula biliar é armazenar bile para ajudar na digestão de gorduras. Possui tamanho aproximado de oito cm, como se fosse um pequeno figo, localizada na borda inferior do fígado, do lado direito do abdome. Existem vários tipos de cálculos (pedras), mas os dois principais são os de colesterol e os pigmentados.
O que são os cálculos de colesterol?
São cálculos compostos por colesterol, geralmente mais prevalentes em populações com alto grau de ingestão de gorduras de origem animal (carne vermelha, leite e seus derivados, além de frituras e gordurosos em geral, como os embutidos).
O que são os cálculos pigmentados?
Cálculos pigmentados são cálculos oriundos de sais biliares, outra substância presente na composição da bile e que, quando em concentração inadequada, pode gerar a precipitação e formação de cálculos biliares.
Por que a tendência de apresentar pedra na vesícula aumenta com a idade?
Na verdade muitas pessoas são portadoras de cálculos biliares, contudo não apresentam qualquer tipo de sintoma, sendo diagnosticada a “pedra” na maioria das vezes de modo incidental, nos exames de rotina (os tais “check-ups”), como tomografia e ultrassom do abdome. É preciso tomar cuidado para que o quadro não evolua, para um quadro agudo de inflamação da vesícula (colecistite aguda), quando um cálculo obstrui a saída da bile; colangite, que corresponde a uma infecção grave dos canais que levam a bile para o intestino; e até mesmo uma gangrena da vesícula.
Como a obesidade afeta o aparecimento dessa doença?
O indivíduo que apresenta obesidade possui, geralmente, uma dieta rica em gordura animal, o que acaba contribuindo para a formação de cálculos biliares.
A cirurgia laparoscópica é sempre o melhor tratamento, seja para pacientes sintomáticos (que já sentem dores) ou assintomáticos?
A cirurgia laparoscópica para remoção da vesícula é, hoje em dia, o melhor tratamento visto que é muito segura e possui baixíssimos índices de complicações. Atualmente, podemos associar à técnica do single port, ou seja, a retirada da vesícula com apenas uma incisão de cerca de 2,5 cm e alta hospitalar no mesmo dia da cirurgia, com ótimos resultados.
O fato de se retirar a vesícula não afeta o funcionamento do fígado ou do intestino?
Não afeta de modo algum. Evolutivamente, o homem não necessita hoje em dia da vesícula, pois se alimenta várias vezes ao dia o que torna a vesícula um órgão sub-utilizado, já que não há a necessidade de se armazenar tanta bile. Alguns pacientes, contudo, ao retirar a vesícula podem apresentar um aumento no número de evacuações no primeiro mês.
Qual seria a forma de prevenir o aparecimento dessa doença?
A melhor maneira de se prevenir é ter uma dieta com baixo teor de gordura e alto teor de fibras, diminuindo a chance de se formar os cálculos.
Dr. Vladimir Schraibman / CRM-SP 97304 (Cirurgia Geral e Gastrocirurgia)
Especialista em cirurgia geral, gastrocirurgia e único orientador de Cirurgias Robóticas da área de Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo do Hospital Israelita Albert Einstein (Proctor Intuitive Robotic System). Graduado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, com mestrado e doutorado em Ciências Médicas pelo Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, Dr. Vladimir Schraibman é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Videolaparoscópica (Sobracil), é médico colaborador do Setor de Fígado, Pâncreas e Vias Biliares do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo, além de integrar o corpo clínico do Hospital Albert Einstein. Tem diversos artigos publicados em revistas e jornais científicos do Brasil e do exterior, além de intensa participação em congressos nacionais e internacionais.