Educação de qualidade começa bem cedo

Uma criança de 8 anos que recebeu estímulos cognitivos aos 3 conta com um vocabulário de cerca de 12 000 palavras – o triplo do de um aluno sem a mesma base precoce. E a tendência é que essa diferença se agrave. Faz sentido. Como esperar que alguém que domine tão poucas palavras consiga aprender as estruturas mais complexas de uma língua, necessárias para o aprendizado de qualquer disciplina? Por isso as lacunas da primeira infância atrapalham tanto." (James Heckman, Economista da Universidade de Chicago, ganhador do Prêmio Nobel, em entrevista a Revista Veja, 10 de junho de 2009)

Se alguém tem dúvidas ou questionamentos quanto à importância da educação nos primeiros anos de vida, nada melhor que dados e números para comprovar este fato. Partindo desta premissa, ou seja, a de que dados e estatísticas comprovam ações e práticas em educação e programas sociais, o economista James Heckman, defende não só a importância da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental, mas também o valor da participação, incentivo e proximidade da família no processo de formação das crianças.

A diferença existente entre uma criança estimulada, e neste caso é preciso considerar como bases de estímulo tanto à escola quanto à família, equivale a possuir um acervo de palavras que é, no mínimo, três vezes maior do que aquelas que não tiveram igual incentivo em seus lares e escolas. E este vácuo criado entre crianças que tiveram diferentes origens em seus processos de ensino-aprendizagem dificilmente será tirado mais tarde ou, se isto ocorrer, acontecerá a um custo que pode 60% mais caro para a sociedade, conforme dados do próprio economista.

O preparo qualificado nas escolas, apoiado pela família, permite que a criança cresça mais rica quanto as suas bases culturais ao mesmo tempo em que lhe garante melhor saúde (emocional e física) e, certamente, repercute em suas condicionantes sociais, melhorando sua capacidade de se relacionar com as outras pessoas a seu redor. Desenvolve-se, conforme observa Heckman, não apenas as capacidades cognitivas, aquelas relacionadas ao QI (o Quociente de Inteligência), mas também as sociais e emocionais.

Sabe-se hoje que, do mesmo modo que é importante conhecer a caixa de ferramentas e utilizá-la do modo mais eficiente possível, cabe também a todos desenvolver-se quanto às habilidades relacionais, de interação social. São elas que garantem as pessoas o acesso ao trabalho, a expansão de possibilidades profissionais e sociais, o bom relacionamento em todos os ambientes que as pessoas freqüentam, a capacidade de motivar-se para desafios, o controle pessoal em situações diversas.

A escola complementa o trabalho de lapidação e polimento da pedra preciosa que é uma criança ao lhe dar subsídios sociais e culturais que a inserem na sociedade em pé de igualdade com os demais seres humanos. Cabe a família, no entanto, o crucial papel de fazer com que seus filhos tenham bases de ação, pensamento e moral que lhes permita entrar na escola, literalmente, pela porta da frente. Isto significa que, se não há um trabalho de incentivo e educação anterior e paralelo ao trabalho escolar realizado pelas redes de ensino regulares por parte da família, o prejuízo para as crianças, as famílias e a sociedade como um todo é grandioso.

Reduzir este raciocínio a números pode parecer mesquinho demais, mas foi a forma encontrada para demonstrar a todos o quanto custa a um país ter uma educação desqualificada em suas bases. Em termos do mundo real, poderíamos dizer que isto significa violência, famílias desestruturadas, consumo crescente de drogas, propagação de doenças que poderiam ser evitadas, aumento dos índices de pobreza…

No que tange a importância da família, Heckman coloca em pauta a necessidade de a escola orientar os pais e demais familiares que tem contato com as crianças em idade escolar, quanto a ações e práticas que deveriam ser regularmente adotadas em seus lares para incentivar os estudos e o enriquecimento social e cultural destes infantes.

Vivemos um tempo em que os pais, devotados ao trabalho, participam menos da formação de seus filhos do que há 20 ou 30 anos. Apesar do grande acesso a informação e dados, estas famílias carecem de maior tempo e esclarecimento quanto a formas e meios de melhorar o relacionamento e incentivar seus filhos para a vida familiar, escolar e social. Neste sentido, é urgente que auxílio surja e, certamente, não existe melhor e mais qualificada instituição para este fim do que a escola.

*João Luís de Almeida Machado é editor do Portal Planeta Educação, doutor em Educação pela PUC-SP, pesquisador e autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte (Editora Intersubjetiva).
 
 
Fonte: Assessoría de Imprensa

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