Brasília – Propor caminhos para uma economia de baixo carbono e mostrar como os empresários de outros países trabalham para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Esta foi o tema do seminário Desafios Empresariais para a Economia de Baixo Carbono promovido pela plataforma Empresas pelo Clima (EPC), do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, realizado em São Paulo, no dia 9 de novembro. O evento reuniu líderes empresariais dispostos a trabalhar pela construção conjunta de políticas públicas para regular o setor econômico na perspectiva da economia verde.
Os empresários assinaram o documento Propostas empresariais de políticas públicas para uma economia de baixo carbono no Brasil :Energia, Transportes e Agropecuária. O texto será encaminhado à equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff. Resultado de um ano de estudos coordenados pelo GVCes, o trabalho contou com a participação de várias empresas de grande porte no Brasil integrantes do EPC.
No evento, foi lançado também o estudo Financiamentos Públicos e Mudança do Clima – Análise de Bancos Públicos e Fundos Constitucionais Brasileiros, que mostra a importância do setor financeiro público na disponibilização dos recursos necessários para o financiamento de uma economia de baixo carbono. O trabalho avaliou políticas e práticas de bancos e fundos públicos brasileiros quanto à redução do impacto climático de suas operações e analisa o planejamento estratégico das instituições bancárias públicas no âmbito das mudanças climáticas.
Coordenado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV/EAESP (GVces) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com apoio da Embaixada Britânica, o estudo aponta que há recursos disponíveis nos bancos públicos para investimentos em ações que reduzam os gases de efeito estufa. “O que falta é acompanhar os investimentos que já estão sendo feitos com recursos dos bancos públicos. Para isso, as instituições financeiras precisam desenvolver tecnologias para monitorar o gasto do dinheiro”, explicou Gladis Ribeiro, coordenadora do estudo.
Segundo ela, todas as instituições pesquisadas têm uma consciência estratégica da necessidade de desenvolver produtos e soluções que atendam a economia de baixo carbono.
Experiências internacionais
O diretor de Desenvolvimento do Cambridge Programme for Sustainability Leadership da Universidade de Cambridge, Martin Roberts, mostrou a experiência da instituição no apoio científico e tecnológico a empresas europeias que querem encontrar o caminho da sustentabilidade e das baixas emissões de carbono.
Segundo ele, há poucos anos, a associação de empresas inglesas (CBI) dizia que a sustentabilidade nos negócios traria desemprego. Hoje, disse, essa ideia já está superada. Tecnologias sustentáveis foram fundamentais para a nova economia britânica. Japão, Coreia, México, Turquia, EUA, Índia, Canadá são países que também se engajaram na mobilização do setor empresarial pelo clima. O Brasil agora segue essa rota. As empresas brasileiras ligadas ao GVCes já fazem seus monitoramentos para saber o quanto cada uma delas emite de gás carbônico.
O diretor de projetos da Carbon Trust, do Reino Unido, David Vincent, disse que “conhecer o volume de emissões é o primeiro passo para uma empresa caminhar para a economia de baixo carbono”. Em sua opinião, algumas vezes os executivos apontam os problemas financeiros como entraves ao processo, mas é fato que há um retorno positivo. O caso japonês e o espanhol também foram expostos no seminário por representantes de entidades locais.
Empresas brasileiras que já estão atuando com política voltada a economia de baixo carbono chamaram a atenção no seminário. O diretor de Desenvolvimento e Implantação de Projetos da Vale, Fernando Augusto Quintella, mostrou o que fez sua empresa se tornar líder mundial entre as mineradoras no ranking de mudanças climáticas do Goldman Sachs. “Esse resultado deve-se ao trabalho que vem sendo realizado pela empresa há anos. A economia de baixo carbono vai dar lucro e quem não fizer vai ter prejuízo. É um processo que não tem retorno”, observou.
A Camargo Corrêa e a Única também apresentaram seus cases. “Sustentabilidade tem tudo a ver com perpetuação. O tema do clima surgiu há dois anos depois que percebermos que não havia nada sobre o assunto na empresa”, disse o superintendente de Sustentabilidade do grupo Camargo Corrêa, Ciro Fleury.
O diretor da maior organização representativa do setor de açúcar, etanol e bioletricidade do Brasil, Marcus Jank, da União da Indústria da Cana de Açúcar (ÚNICA) disse que, depois de muitos estudos sobre as emissões, o setor que ele representa reduziu em 90% as emissões brasileiras de CO2, em comparação à gasolina. Com mais de 120 associadas, a Única responde por 60% da cana-de-açúcar, açúcar e etanol produzidos no Brasil. “Fizemos o que nenhum outro setor fez. Somos os primeiros a assumir que não vai haver desmatamento. O setor só vai crescer em cima de áreas já existentes”, finalizou Jank.
“O setor empresarial está absolutamente conectado no tema e preocupado com o quanto o clima impacta na sua atuação”, disse o coordenador geral do GVCes, Mario Monzoni. Por isso, segundo ele, o centro desenvolveu os estudos setoriais com as sugestões de políticas públicas para o governo.
Mário Monzoni adiantou que a intenção do GVCes é ampliar o estudo para outros setores, de modo a garantir os subsídios necessários para que o Brasil possa se consolidar como uma liderança em baixas emissões de carbono no setor econômico entre os países em desenvolvimento.
ai/UNO