sábado, dezembro 14, 2024

Camarões e tilápias juntos em fazendas marinhas de Policultivo

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Florianópolis – Quando uma doença conhecida como mancha branca surgiu em Santa Catarina, anos atrás, os criadores de camarão em cativeiro foram proibidos de vender os crustáceos. Em vez de fechar as fazendas marinhas, houve quem tentasse diversificar a produção, incluindo tilápias no mesmo viveiro. “O equilíbrio ecológico gerado neste sistema de policultivo possibilitou a produção em fazendas antes contaminadas pelo vírus da mancha branca (white spot sindrome vírus)”, diz o engenheiro de Aquicultura Frederico Santos da Costa, formado na Universidade Federal de Santa Catarina e contemplado com um laptop pela originalidade de suas ideias, num programa da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina.

Costa foi um dos pioneiros no estado em trabalhar com este tipo de sistema e fez os primeiros experimentos numa fazenda que a UFSC mantém em Barra do Sul, em 2007. Durante seu mestrado, Costa testou a viabilidade técnica e financeira de criar tilápias junto com camarões e publicou os resultados em 2008. Pouco depois, abriu a empresa Eco Marine Aquicultura, com um colega do Departamento de Aquicultura da UFSC. Após serem premiados como um dos 10 melhores projetos no Programa Sinapse da Inovação, da FAPESC, resolveram dar início à produção comercial de peixes e camarões.

“Em 2 anos produzimos mais de 100 toneladas de tilápia e 5 toneladas de camarão”, comemora Bruno Ricardo Scopel, Diretor de Tecnologia e novação da Eco Marine. “A gente já fez parcerias com produtores de Tijucas e Araquari; agora estamos nos aproximando do mercado consumidor de Curitiba e São Paulo, mercados alvo da empresa.” Ele vai além: quer agregar valor ao peixe, não só oferecendo-o em filés congelados. “Se houver um processo de beneficiamento bem feito, dá para usar quase tudo da tilápia, inclusive a pele. Este tipo de couro serve para fazer bolsas, malas, botas etc”.

Inovar é uma questão de sobrevivência para os dois sócios, que não desanimam com os baixos preços da tilápia.  A variedade produzida em açudes utiliza mão de obra familiar, pouca tecnologia e menos recursos, resultando num peixe barato. Para provar que vale a pena pagar um pouco
mais, Costa afirma: “estudos científicos de análise sensorial demonstram que os filés da tilápia produzida em água salobra são tão aceitos quantos os filés de badejo e merluza. Esta tilápia possui textura mais firme e sabor marinado, sendo apreciada principalmente em restaurantes japoneses.”

Outros estudos demonstraram que a tilápia tem um efeito benéfico sobre a ecologia dos policultivos, pois comem microalgas, “limpando” a água de cultivo. Já os camarões se alimentam de porções do alimento não consumidas pelos peixes, as bactérias e detritos oriundos de sedimentação da matéria orgânica, as algas mortas e mesmo as fezes das tilápias. Isso elimina a necessidade de dar aos camarões uma ração que no sistema de monocultivo representa até 60% dos custos variáveis.

No policultivo, apenas os camarões moribundos ou mortos são ingeridos pelos peixes, eliminando a possibilidade de transmissão de doenças virais. “Achamos uma forma mais rápida e viável de reativar as fazendas que estavam paradas devido ao vírus da mancha branca”, ressalta Scopel.

Ele e Costa – Diretor Executivo da Eco Marine – ganharam o Prêmio Varejo Sustentável da Walmart em 2010, com o projeto Cultivo de camarões marinhos em sistema ambientamente amigável: alta produtividade e baixo impacto ambiental. No ano anterior, haviam sido premiados pelo Programa Prime, da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). Os sócios da empresa pretendem continuar investindo em tecnologias de produção, com emprego de um projeto inovador de cultivo de camarões, chamado “sistema bioflocos”, que praticamente elimina o descarte de efluentes e aumenta a produtividade em 50 vezes, se comparado aos cultivos tradicionais. Esses benefícios foram decisivos para o projeto ser considerado um dos 10 melhores pelo Programa Sinapse da Inovação, Operação 2009.

Atualmente em andamento, a edição seguinte do Sinapse recebeu 1.158 propostas. Destas, 200 passaram pela primeira seleção. Os autores das propostas classificadas deverão detalhar as ideias e transformá-las em projetos a serem submetidos a mais duas triagens. Ao final, 40 empresas
receberão R$50 mil da FAPESC para desenvolver produtos ou processos inovadores.

Detalhes no site www.sinapsedainovacao.com.br.

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