Rio de Janeiro – O bloqueio militar imposto por Israel à Faixa da Gaza, no Oriente Médio, agrava a cada dia a situação humanitária dos cerca de 1,4 milhão de refugiados palestinos que vivem no local. Pelas barreiras só passam alimentos básicos e remédios. Produtos como material de construção, papel, sementes e fertilizantes ficam retidos.
A informação foi dada hoje (28) pelo diretor do Escritório da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, Andrew Witley, em entrevista à Agência Brasil, durante o Seminário Internacional de Mídia sobre a Paz no Oriente Médio, no Itamaraty, no centro do Rio.
De acordo com Witley, além da agricultura, que garantia alguma renda aos refugiados, o bloqueio tem afetado o acesso ao trabalho, à saúde e às práticas educacionais. “A proibição da entrada de papel inviabiliza a impressão de material didático, por exemplo, assim como os constantes cortes de luz comprometem diversas atividades”, disse ele.
Com a restrição da passagem de materiais de construção, a recuperação da infraestrutura do país e até de prédios da Organização das Nações Unidas (ONU), atingidos principalmente no último conflito, entre dezembro de 2008 e janeiro deste ano, também é prejudicada. “Cerca de 50 escolas ficaram sem vidros e não podem ser consertadas”, informou.
Segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, a ofensiva israelense no final do ano passado deixou 1,3 mil mortos e mais de 5 mil feridos. No entanto, disse Witley, a situação atual é decorrente de uma série de fatores, como a explosão da segunda intifada (revolta popular), em 2000, quando Israel começou a restringir a passagem de palestinos e as trocas comerciais.
“É um bloqueio medieval. As autoridades de Israel querem manter a opressão sobre a população. Acho injusta essa punição coletiva”, criticou Witley, afirmando que também não concorda com o lançamento de mísseis contra Israel.
O bloqueio de Israel a Gaza foi imposto em 2007, um ano após a eleição do grupo Hamas para o governo da Palestina, em substituição à liderança da Autoridade Nacional Palestina, presidida, atualmente, por Mahmoud Abbas, do grupo nacionalista Fatah.
A medida adotada pelo lado israelense tem objetivo de defesa, defendeu o ex-vice-chanceler de Israel, Eli Dayan, durante os debates do seminário. Ao reconhecer os problemas em Gaza, ele admitiu que, com um compromisso claro do Hamas com um cessar-fogo, as negociações seriam mais fáceis e alguns postos de controle poderiam ser liberados.
Embora a situação em Gaza seja “a mais crítica”, Andrew Witley também chamou a atenção para a situação na Síria, onde estão 9,9%, dos cerca de 4,7 milhões de refugiados palestinos. “Na Síria, eles não têm cidadania”, afirmou o diretor da agência das Nações Unidas.
Isabela Vieira/ABr