Um breve texto para Marco Feliciano e sua infeliz declaração

Marco Feliciano, o novo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, disse (para a Veja) o que o incomoda nos gays e porque “nem todos os negros são amaldiçoados”. Sua explicação (bíblica) é que Canaã (filho de Cam, que é filho de Noé) foi “condenado” a ser escravo e de Canaã vieram aqueles que povoaram parte da Etiópia. “Eu não disse que os africanos são todos amaldiçoados. Até porque o continente Africano é grande demais. Não tem só negros” (Veja, 20.03.13, p. 20). Essas infeli(z)cianas declarações me recordaram Benjamin Selwyn (1001 anécdotas y hechos extraordinários, 2008), que narra o seguinte:

“Em 14 de outubro de 1998, em um voo transatlântico da companha aérea British Airways ocorreu o seguinte: uma senhora se sentou ao lado de homem de raça negra. A mulher pediu para a aeromoça que fosse mudado seu assento porque “não podia sentar-se ao lado de uma pessoa tão desagradável”. A aeromoça argumentou que o voo estava lotado, porém iria ver se podia encontrar alguma poltrona livre na primeira classe. Todos os passageiros observavam a cena com irresignação, não só pelo fato em si, senão pela evidência de que, ademais, lhe fora oferecido um lugar distinguido no avião. Minutos depois a aeromoça regressou e disse para a senhora: “Desculpe, efetivamente todo o avião está lotado, porém, afortunadamente, há um assento vazio na primeira classe. Para fazer essa mudança tive que pedir autorização ao comandante, que me informou que não podia obrigar ninguém a viajar ao lado de uma pessoa tão desagradável”. A senhora, com cara de triunfo, começou a se movimentar para deixar seu assento, mas nesse momento a aeromoça se voltou para o homem de raça negra e disse: “Poderia o senhor me acompanhar até o seu novo assento?”. Todos os passageiros aplaudiram a ação da aeromoça. Tanto ela como o comandando foram premiados pela ação que praticaram”.

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil.
UNOPress