Joinville – A aguardada Semana da Diversidade de Joinville (SC) abre oficialmente neste domingo (21/6) às 20horas. Pela primeira vez, a maior cidade de Santa Catarina terá um evento público dedicado a combater o preconceito contra pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Durante sete dias, entre os dias 21 e 27 de junho, uma programação intensa será disponibilizada com debates, palestras, apresentações culturais, lançamentos de livros, exposições temáticas e o Festival Mix Brasil de Cinema e Vídeo. A iniciativa é da Associação Arco-Íris, Grupo Vida e Fundação Cultural de Joinville.
A organização da semana foi motivada pela Lei Ordinária Municipal No 6.430, sancionada em 19 de janeiro deste ano, que institui o 28 de junho como Dia Municipal de Combate à Homofobia. A data é emblemática, especialmente neste ano que celebra os 40 anos da revolta de Nova York (EUA). Em 1969, um grupo de homossexuais que freqüentava o bar Stonewall Inn, naquela cidade, resolveu protestar contra as freqüentes batidas policiais e prisões. Desde então, o episódio é considerado um marco na luta pelos direitos das pessoas LGBT.
E como arte e a cultura são instrumentos poderosos de reflexão a Semana começa com uma apresentação artística. A peça Borboletas de sol de asas magoadas, da atriz gaúcha Evelyn Ligocki, será apresentada no Galpão da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote). No espetáculo, concebido em 2002, o espectador é um dos visitantes da casa da travesti Bety.
Ela recebe o público para contar os detalhes do dia a dia de alguém que nasceu em corpo de homem, mas vive em um universo feminino. No quarto de Bety, o público mergulha em um mundo comum a todas as travestis, ora cintilante, ora opaco, de preconceitos, risos, silicone, sexo, música, salto alto, desprezo, solidão e feminilidade. O público divide o mesmo espaço com a atriz, que contracena durante quase toda encenação diretamente com seus convidados, recebidos e acomodados por ela em sua casa.
Para a concepção da peça, voltada ao público adulto, Evelyn trabalhou nas ruas de Porto Alegre, diretamente com as travestis, entrevistando-as e participando como observadora do cotidiano desse grupo. Nas calçadas e casas, conheceu as histórias, os trejeitos, as gírias, os rancores e os desejos retratados por Bety. A atriz também encontrou material para seu trabalho na Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul Igualdade, que defende a cidadania desse público. A trilha sonora foi pesquisada tomando-se por base as canções que as travestis utilizam em seus shows em boates. A montagem tem aproximadamente 60 minutos.
Sete anos depois de ter sido criado, Borboletas de sol de asas magoadas ainda é convidado para temporadas em todo o país. Dentre os prêmios obtidos pela peça, destacam-se o Prêmio Açorianos Atriz Revelação (Porto Alegre 2002) e a Indicação ao Prêmio Qualidade Brasil de Melhor Atriz Comédia (São Paulo – 2006). O espetáculo integra a programação da Cena 6 e os ingressos estão sendo vendidos no Shopping Cidade das Flores.
Algumas críticas sobre o espetáculo:
A partir de uma ampla pesquisa de campo, com travestis, Evelyn literalmente encarna uma, misto de muitas. Uma atriz talentosa, de forte presença cênica.Beth Néspoli O Estado de S.Paulo (18/03/2006)
Esse conjunto de aspectos é trazido à cena pelas mãos de Evelyn Ligocki com elogiável desenvoltura, terminando a apresentação com o batom espalhado pela cara e o rímel escorrendo em lágrimas, desfazendo o carão a máscara tão meticulosamente construída antes de sair às ruas. Edélcio Mostaço – Festival de Rio Preto (2006).
O travestimento de qualquer ator é sempre um desafio. No caso de Ligocki, é tão mais difícil, certamente, porque é um duplo travestimento. De recepção fácil aos espectadores à presentificação do cotidiano do travesti transformado em profissional do sexo a criação do personagem e do clima são tão verossímeis que falam por si mesmos. Antônio Hohlfeldt, Jornal do Comércio de Porto Alegre.
Sexualidade e Religiões é tema da primeira palestra da Semana Diversidade Joinville
A programação cultural da Semana da Diversidade Joinville prossegue na segunda-feira, dia 22 de junho, com a palestra Sexualidade e Religiões, apresentada pelo Padre Alfredo Souza Dorea, de Salvador (BA). A palestra, gratuita e aberta ao público em geral, será realizada no Teatro Juarez Machado, às 20 horas.
Alfredo Souza Dorea é Padre jesuíta, mestre em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (Itália), além de professor de teologia e comunicação pastoral da Faculdade Arquidiocesana de Feira de Santana (BA). Em Salvador (BA), foi pároco da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, reconhecida como uma das maiores expressões do sincretismo e da negritude baiana.
De 2001 a 2004, foi colunista da revista G Magazine, sob o pseudônimo de Padreamanuel. Na capital baiana, tem intensa atuação social como coordenador geral do Projeto Adolescente Aprendiz e gerente administrativo da Instituição Beneficente Conceição Macedo (IBCM), que atende pessoas portadoras do HIV. Ministra cursos e palestras sobre cidadania, diversidade, negritude, cultos afro-brasileiros, homossexualidade e religiões.
Antes da palestra a Fundação Cultural de Joinville abre no foyer do Teatro Juarez Machado uma exposição intitulada Combate à Homofobia uma luta universal. A mostra, formada por reproduções de cartazes de campanhas do movimento LGBT mundial, ilustra a batalha contra a homofobia. Confira a programação completa da Semana da Diversidade no site www.diversidadejoinville.com.br.
Realização: Grupo Vida, Associação Arco-Íris e Fundação Cultural de Joinville
Fonte:Fundação Cultural de Joinville (FCJ)
Marlise Groth – Jornalista e Coordenadora de Comunicação