Com o fim do retorno alto e garantido dos títulos públicos, as fundações começam a discutir a necessidade de reduzir a taxa de referência para suas aplicações e aumentar os investimentos em ativos de maior risco. Gestores e representantes da indústria que administra cerca de R$ 450 bilhões apostam que a manutenção de uma referência de ganho de 6% acima da inflação, a chamada meta atuarial, praticada por muitas das 372 entidades fechadas de previdência no País, é incompatível com um cenário de juro básico de um dígito.
Enquanto alguns fundos de pensão já iniciaram as discussões ou até mesmo aprovaram reduções em suas metas atuariais, como fez a gigante Previ, o governo federal trabalha na reformulação das regras de investimento do setor. As novas regras permitirão a alocação de volumes maiores de dinheiro em instrumentos de renda variável, como ações e fundos imobiliários.
As mudanças, que devem ser submetidas ao Conselho Monetário Nacional (CMN) dentro de dois meses, são consideradas positivas pelo setor, mas a mudança na atual estrutura de investimentos dos fundos, que aplicam mais de 60% de seus recursos em renda fixa, será lenta e gradual, segundo avalia o presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), José de Souza Mendonça.
"Entre liquidez, rentabilidade e segurança, o que vem primeiro é a segurança", afirmou Mendonça, que também dirige a Indusprevi, a Sociedade de Previdência Privada do Rio Grande do Sul, que administra uma carteira de R$ 240 milhões e tem 4 mil participantes.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic em todas as quatro reuniões realizadas este ano, jogando a taxa para inéditos 9,25% ao ano. Como o mercado espera que a taxa encerre o ano em 8,75%, a tarefa dos fundos de pensão de garantir um rendimento real de 6% é ainda mais complicada.
Fábio Ohara Ishigami, diretor da gestora de recursos Rio Bravo, que atende a mais de 35 fundos de pensão e administra uma carteira de R$ 2,5 bilhões, acredita que mudanças graduais são mais salutares para o sistema. "Você não pode forçar o sistema a absorver uma cultura de alocação de risco muito repentinamente", afirma Ishigami, que foi coordenador-geral de investimentos da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), órgão do Ministério da Previdência Social que fiscaliza o setor, entre 2001 e 2002.
No caso das metas atuariais, o preceito de cautela é ainda mais premente, segundo avalia Ishigami, uma vez que a redução da meta significa uma despesa para a patrocinadora do fundo, no caso dos chamados planos de benefício definido, que permitem ao contratante saber quanto receberá no futuro.
"Essa questão de redução da meta atuarial é supercomplexa, envolve basicamente alguém colocar mais dinheiro e quando a mudança envolve colocar mais dinheiro, a discussão é sempre bastante longa", diz Ishigami. (O Estado de S. Paulo)
Fonte: Assessoría de Imprensa