A tensão entre Irã e Israel é um dos conflitos mais perigosos do cenário internacional moderno. Mais do que uma rivalidade regional, trata-se de um embate que mistura ideologia religiosa, interesses geopolíticos, disputas territoriais e financiamentos a grupos armados. Mas afinal, por que o Irã quer destruir Israel?
Antes da Revolução Islâmica de 1979 que derrubou o governo do Xá Mohammad Reza Pahlavi, o Irã mantinha uma relação próxima e cooperativa com Israel. Os dois países, embora oficialmente não tivessem relações diplomáticas plenas, desenvolviam parcerias estratégicas, militares e econômicas. Essa aliança surpreende muitos hoje, dado o antagonismo radical entre os dois Estados após a revolução.
Durante as décadas de 1950 a 1970, o Irã era governado por Reza Pahlavi, um monarca pró-Ocidente e aliado dos Estados Unidos. Nesse contexto, Israel também buscava parceiros não árabes na região, como parte de sua doutrina da periferia, uma estratégia de aproximação com países não hostis ao Estado judeu.Mesmo sem relações diplomáticas oficiais — devido à pressão do mundo árabe — Irã e Israel mantinham uma cooperação discreta, porém sólida.
“O povo do Irã não é árabe, é persa”
O Irã era um dos principais fornecedores de petróleo para Israel. Como Israel enfrentava boicotes por parte dos países árabes, a importação de petróleo iraniano era essencial para sua economia e segurança energética.Além disso, Israel fornecia ao Irã tecnologia agrícola, equipamentos militares, infraestrutura e know-how em segurança.
Os dois países também cooperaram em projetos militares secretos, como o chamado “Projeto Flower”, no qual Israel e Irã trabalhavam juntos no desenvolvimento de mísseis e outras tecnologias de defesa.
A Ideologia da Revolução Islâmica Iraniana
Desde a Revolução Islâmica de 1979, o Irã passou a ser governado por um regime teocrático xiita liderado pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini. Um dos pilares ideológicos do novo regime era a oposição total à existência de Israel, chamado por Khomeini de “tumor cancerígeno” no Oriente Médio.
Essa visão permanece viva até hoje, sendo reiterada pelo atual Líder Supremo, Aiatolá Ali Khamenei, que constantemente declara que Israel deve ser eliminado do mapa. A ideologia do regime vê Israel como uma ameaça direta ao Islã e aos interesses do Irã na região.
Apoio à Causa Palestina e à “Resistência Armada”
O Irã se apresenta como defensor dos direitos dos palestinos e não reconhece o Estado de Israel. Em vez disso, apoia a criação de um Estado palestino “do rio ao mar”, o que implicaria na destruição de Israel.Para isso, o Irã financia e arma grupos considerados terroristas por grande parte da comunidade internacional, incluindo:
Hamas, que controla a Faixa de Gaza;
Jihad Islâmica Palestina, ativa em ataques contra civis israelenses;
Hezbollah, milícia xiita libanesa com forte poder militar.
O apoio financeiro e militar do Irã a esses grupos visa enfraquecer Israel de forma indireta, através de guerras por procuração (proxy wars).
Rivalidade Estratégica e Regional
Além da ideologia, há uma clara disputa de poder no Oriente Médio. O Irã busca ser a principal potência da região, enquanto Israel mantém alianças estratégicas com Estados Unidos, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e outras nações sunitas — muitas delas inimigas do Irã.
O medo do Irã é de que Israel e seus aliados estejam tentando conter sua influência regional, especialmente no Iraque, Síria, Líbano e Iêmen, onde o Irã apoia milícias e governos alinhados.
A Questão Nuclear e o Discurso Beligerante
Israel é um dos maiores críticos do programa nuclear iraniano, alegando que o regime está tentando desenvolver armas atômicas para usá-las como forma de ameaça — ou mesmo destruição — de Israel.
O Irã nega que seu programa nuclear tenha fins militares, mas declarações como a do ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, sugerindo que “Israel deveria ser apagado do mapa”, alimentam o temor internacional de um possível conflito nuclear.
Financiamento de Grupos Terroristas: Uma Estratégia de Guerra por Procuração
O Irã investe bilhões de dólares no financiamento de grupos extremistas que atacam Israel, como parte de sua estratégia de “resistência islâmica”. Além do apoio militar, o Irã fornece treinamento, armas, tecnologia de mísseis e recursos financeiros.
Esse apoio visa enfraquecer Israel sem um confronto direto, desestabilizando a segurança israelense através de ataques de foguetes, túneis de infiltração e ações terroristas.
Conclusão: O Conflito Vai Muito Além da Religião
Dizer que o Irã quer destruir Israel apenas por razões religiosas seria uma simplificação perigosa. A rivalidade é um jogo complexo de poder, ideologia e influência. O regime iraniano vê Israel como um obstáculo à sua hegemonia regional e usa todos os meios disponíveis — inclusive o financiamento de grupos armados — para tentar eliminá-lo.
A ameaça iraniana é levada a sério por Israel, que monitora constantemente os avanços nucleares iranianos e atua de forma preventiva sempre que necessário.