O Brasil e a sua guerra particular

O Ibama apreendeu quatro toneladas de agrotóxicos, entre eles desfolhante 2.4D, que estava sendo utilizado na substituição de três mil hectares de floresta por pastagem no Sul do Amazonas. Cerca de 250 hectares já haviam ido para o beleléu.

AngeliO 2.4D, que é usado na agricultura, é um dos componentes do agente laranja, despejado no Vietnã para revelar inimigos do Tio Sam que se escondiam na mata.
Comentei com um colega antropólogo que, seguindo essa toada, em breve, o pessoal ia começar a usar napalm para limpar fazendas de indígenas indesejáveis.

No que ele me lembrou que isso já aconteceu. Durante a construção da BR-174, que cortou o território Waimiri Atroari, entre Roraima e o Amazonas, o exército brasileiro controlado pela Gloriosa quase levou à extinção o povo kinja na década de 1970. Há relatos de bombas lançadas por aeronaves na população.

Outros relatos apontam o massacre de indígenas no Mato Grosso na década de 1960, quando fazendeiros, com o apoio de representantes do Estado, teriam lançado objetos contaminados com doenças como sarampo nas aldeias indígenas.

Reestabelecida a democracia, casos assim continuaram. Há denúncias de que pecuaristas, temendo que suas terras viessem a ser devolvidas aos indígenas isolados que nelas viviam no Sul de Rondônia, mandaram dar açúcar de presente à tribo. O que não avisou a eles é que o açúcar tinha sido temperado com veneno de rato.

E olha que não falamos de trabalhadores rurais, como nas bombas jogadas durante a repressão violenta à greve dos cortadores de cana em Guariba, Estado de São Paulo, na década de 1980, ou nas chacinas e massacres, como Eldorados dos Carajás, Estado do Pará.

Em suma, quando dizemos que uma guerra tem sido travada no campo no Brasil, tem gente que duvida. O pior é que ela não foi ou é apenas convencional, mas é também química e biológica.

Não dava para ter aplicado a Convenção de Genebra por aqui, não?

Leonardo Sakamoto
ai24horas

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