Pequim (China) – As relações entre o Brasil e a China, que começaram a se qualificar no governo Fernando Henrique Cardoso, ganharam impulso nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, tendo como marco decisivo a visita do presidente chinês Hu Jintao ao Brasil, em 2004.
Os dois países constituíram um comitê bilateral de alto nível, e o Brasil finalmente reconheceu a China como economia de mercado, nos termos da Organização Mundial do Comércio (OMC), recebendo algumas críticas por isso.
Desbancando os Estados Unidos, a China tornou-se em 2009 o maior parceiro comercial do Brasil. Em dez anos, as exportações brasileiras para aquele país cresceram mais de 18 vezes, passando de US$ 904,9 milhões, em 1998, para US$ 16,4 bilhões, em 2008.
As relações políticas são estreitas, fortalecidas pela constituição do grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). A cooperação em várias áreas é intensa, com destaque para o programa conjunto de lançamento de satélites de rastreamento.
No último dia 7 de setembro, data nacional brasileira, o jornal China Daily publicou artigo de Lula e de Hu Jintao destacando a importância deste relacionamento e reiterando a disposição para aprofundá-lo em todos os planos. Uma chuva de números detalhou o relacionamento comercial em um artigo na mesma página.
O político e analista argentino Rafael Bielsa escreveu recentemente um artigo intitulado Brasil e China – Duas Potências se Saúdam, no qual aponta a aliança estratégica entre os dois emergentes como um movimento de alta relevância no cenário internacional, que vai muito além da clássica divisão de trabalho, em que o Brasil venderia matérias-primas e a China, produtos industrializados. Mas não é bem assim, diz ele, destacando os investimentos de empresas brasileiras como a Petrobras e a Vale, na China.
As vendas de minério de ferro da Vale para a China são cruciais para a mineradora brasileira. Os embarques, segundo fontes da empresa, totalizaram 35.611 milhões de toneladas no segundo trimestre deste ano, representando 66,2% do total exportado pela empresa.
Se a China é o maior cliente da Vale, é também um grande fornecedor de máquinas e equipamentos para mineração, o que se traduziu em importações da ordem de US$ 2,7 bilhões no ano passado. Além do comércio, a Vale participa de oito joint-ventures com empresas chinesas nas áreas de níquel e carvão.
Esta aliança estratégica, que preocupa vizinhos como a Argentina e parceiros mais distantes, pode ser mal percebida aqui, mas na China é altamente valorizada e divulgada. A palavra Brasil desperta interesse especial.
O futuro é sempre um ponto de interrogação, mas saber mais sobre a China deixa a certeza de que será preciso uma grande marola na economia internacional para tirar a locomotiva dos trilhos. E quanto ao Brasil nesta parceria, outra coisa é certa: o século 21 dará passagem aos países emergentes e o eixo geopolítico terá uma inclinação forte para o Pacífico, uma rota que o Brasil vem explorando com ousadia, tal como os navegantes portugueses que, em outra época, alargaram as fronteiras do mundo.
Fonte: Tereza Cruvinel/ ABr