Os vírus sazonais do Influenza e doenças como pneumonia parecem ter sido relegados a segundo plano após o surgimento da pandemia da Gripe A (popularmente conhecida como gripe suína). No entanto, merecem os mesmos cuidados e precauções, uma vez que podem ser até mais letais que o vírus H1N1.
Prova recente disso é o triste episódio envolvendo a morte da estudante de 15 anos, Jacqueline Ruas, em um vôo proveniente da Flórida rumo ao Brasil. A jovem, que morava em São Caetano do Sul e retornava de uma viagem à Disney, teve insuficiência respiratória provocada por uma pneumonia e morreu em decorrência de um choque séptico.
O caso ilustra a gravidade que gripes, pneumonias e outras infecções podem tomar quando seus sintomas são subestimados. “Segundo a necropsia do IML, a adolescente teve uma pneumonia do tipo bacteriana. O que levou ela a morte foi o quadro bacteriano e não o quadro relacionado ao vírus. As pessoas, por exemplo, que morrem devido à atuação do H1N1, geralmente morrem devido a uma pneumonite importante, que é um processo infeccioso inflamatório pelo vírus no pulmão e tem características completamente diferentes das que ela apresentou”, explica Jean Gorinchteyn, médico infectologista do Hospital e Maternidade São Camilo.
De acordo com o médico, é provável que a pneumonia grave tenha evoluído rapidamente para a sepse, que é uma resposta inflamatória exagerada do organismo frente a um agente bacteriano. “A sepse promove a liberação de algumas substâncias como a citocinas, responsáveis pela vasodilatação de todo o sistema vascular, levando à queda da pressão e disfunção dos vários órgãos e sistemas, como o coração e o pulmão”, diz Gorinchteyn.
Ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, a evolução rápida da sepse mesmo em pacientes jovens com histórico saudável não é algo raro de acontecer. “Não é incomum acontecer de pessoas sem antecedente de imunodeficiências evoluírem com quadros graves de sepse. A sepse é um evento freqüente”, afirma o infectologista.
“Temos, inclusive, uma campanha internacional de combate a sepse que ajuda a detectar de forma precoce os sinais preliminares de sepse. Mediante alguns sinais e sintomas, conseguimos antecipar a presença de um quadro séptico. Entre estes sinais estão a elevação da temperatura, queda dos níveis de pressão arterial, aumento da frequência respiratória, alterações na oxigenação do sangue e alterações na função renal. Estes dados são importantes, pois podem antecipar a possibilidade de evolução de um quadro séptico. Tenho, então, que obrigatoriamente introduzir uma série de medidas, com a internação hospitalar muitas vezes em ambiente de UTI”, esclarece Gorinchteyn.
O médico alerta sobre a importância das pessoas estarem atentas às infecções respiratórias e sintomas relacionados à febre alta e persistente, assim como queda do estado geral. De acordo com Gorinchteyn, 80% das pessoas que procuram os pronto-atendimentos dos hospitais públicos e privados com infecção respiratória têm geralmente um quadro viral de outra etiologia que não relacionado ao vírus da Gripe A. E muitas vezes, uma gripe aparentemente comum e inofensiva pode evoluir para quadros graves predispondo infecções bacterianas, como aconteceu com a estudante brasileira.
Para o infectologista, é importante que as pessoas não banalizem os sintomas relacionados à gripe comum. “Além de evitar locais aglomerados e ambientes fechados, é importante que as pessoas não façam uso de medicamentos de forma leviana e procurem atendimento médico aos primeiros sinais dos sintomas da gripe”, recomenda.