Manchas, sombras flutuantes, borrões na visão e, até mesmo, apagões inesperados são os principais sintomas de descolamento da retina – problema que acomete com mais freqüência idosos e míopes. A doença preocupa os especialistas, uma vez que pode causar graves problemas visuais ou mesmo levar à cegueira, caso não seja tratada precocemente. Uma pesquisa feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que mais de 161 milhões de pessoas no mundo têm a visão reduzida, das quais 37 milhões são cegas. Nada menos do que 75% das ocorrências de cegueira poderiam ter sido evitadas. O descolamento de retina é um dos temas discutidos durante o XXXV Congresso Brasileiro de Oftalmologia, que acontece em Belo Horizonte, de 24 a 27 de agosto, no Expominas.
O oftalmologista e presidente do Congresso, Elisabeto Ribeiro Gonçalves, alerta a população para a importância dos exames preventivos. “A retina tem papel fundamental na visão. Ela é responsável pela captação da imagem através da luz que é enviada ao cérebro por meio do nervo ótico. Sabemos que duas, das quatro maiores causas de cegueira no adulto, afetam diretamente a retina. Ela pode ser atingida por doenças congênitas ou adquiridas. Por isso é tão necessária a visita ao oftalmologista e a realização de exames para avaliação”.
O especialista explica que a retina é uma fina membrana transparente, formada por dez camadas histologicamente distintas, localizada no fundo do olho. “Para se ter uma noção da funcionalidade da retina, se o olho fosse uma câmara, a retina seria o filme da máquina. É nela que a luz é absorvida e transformada em um impulso elétrico que faz o cérebro enxergar”, detalha.
O descolamento de retina é frequentemente provocado pelo afinamento da membrana, que dá origem a “buracos”. Nos estágios iniciais, o descolamento provoca alterações na visão periférica, com o surgimento de sombras e a formação de imagens irregulares flutuantes ou flashes luminosos que podem tornar a visão borrada. A perda da visão começa em uma parte do campo visual e, à medida que o descolamento progride, ela aumenta. “A área escura pode iniciar em qualquer parte do campo visual. Se ela atingir o centro deste campo, o olho não será capaz de ver detalhes finos. Em muitos casos, depois que um descolamento tem início, toda a retina poderá se descolar, causando perda total da visão”, conta Gonçalves.
O diagnóstico deve ser feito precocemente, principalmente nos pacientes que fazem parte do grupo de risco – indivíduos do sexo masculino e de origem caucasiana, idosos, altos míopes e aqueles que tenham antecedentes familiares de descolamento da retina. “Os olhos com mais de cinco graus de miopia tendem a ser mais longos, a retina precisa se esticar para forrá-los. Pode tornar-se fina demais na sua periferia e rasgar-se, por isso o descolamento é muito comum em míopes”, alerta. Entre os exames mais comuns estão o mapeamento de retina e a ultrassonografia ocular.
Apesar da maior freqüência no grupo de risco, a doença também pode ocorrer após traumatismos oculares e/ou cirúrgicos, como a cirurgia de catarata. Aproximadamente 40% a 55% de todos os pacientes com descolamento de retina são míopes, 30% a 40% são áfacos (possuem falta de cristalino no olho), 10% a 20% têm história de trauma ocular e apenas 3,5% têm histórico familiar.
Segundo Elisabeto, as possibilidades de recuperação variam conforme a causa, a localização e o tamanho da área descolada, podendo envolver aplicação de laser, cirurgia ou laser. Independentemente da técnica, o objetivo principal é obter um fechamento das rupturas retinianas levando à reconstrução da área atingida. Uma cicatriz é produzida intencionalmente para facilitar a aderência entre as partes lesionadas. “A cirurgia é bem sucedida em aproximadamente 80% dos casos, com um único procedimento. Até que a visão retorne ao seu nível normal podem ser necessários alguns meses”, conclui.
UNOPress