Perto de 80% de toda a necessidade por eletricidade do planeta pode ser atendida por fontes limpas até 2050 se os governos colocarem em prática políticas públicas para o setor, afirma um relatório especial sobre energias e mitigação climática.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), entidade ligada às Nações Unidas que reúne cientistas de diversos países, vai divulgar no final de maio o seu primeiro relatório aprofundado sobre as energias renováveis. Serão quase mil páginas com análises de mais de 120 pesquisadores.
O Special Report on Renewable Energy Sources and Climate Change Mitigation (SRREN) afirmará que ao custo anual de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) global, as fontes renováveis podem suprir até 77% do consumo mundial nas próximas décadas, mantendo assim a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera abaixo das 450 partes por milhão.
As renováveis já apresentam um rápido crescimento, dos 300GW adicionados à capacidade instalada do planeta entre 2008 e 2009, cerca de 140GW vieram de fontes como solar e eólica.
“O relatório demonstra com evidências científicas que as renováveis podem, a um custo competitivo e com agilidade, atender as demandas de crescimento nos países em desenvolvimento, onde mais de dois bilhões de pessoas ainda não tem acesso a serviços básicos de energia. Os governos devem dar o chute inicial na revolução energética ao implementar leis de incentivo”, declarou Sven Teske, diretor de energias renováveis do Greenpeace e um dos autores da pesquisa.
O IPCC reconhece que muitas tecnologias renováveis ainda são mais caras que os combustíveis fósseis, mas acredita que elas terão um papel mais importante para lidar com o aquecimento global do que a energia nuclear e a captura e armazenamento de carbono (CCS).
Em 2008, as renováveis respondiam por 13% da eletricidade mundial, uma porcentagem que já deve ser bem maior atualmente, uma vez que os investimentos de países como a China se multiplicaram desde então.
“O IPCC reuniu as informações mais relevantes para divulgar com clareza o verdadeiro potencial das energias renováveis para mitigar as mudanças climáticas. Este relatório pode ser utilizado como uma base sólida para que as autoridades construam as políticas necessárias para lidar com o fornecimento limpo de eletricidade, um dos maiores desafios do século XXI”, afirmou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.
Tecnologias
O Special Report on Renewable Energy Sources and Climate Change Mitigation já foi aprovado por representantes de 194 nações e possui dados sobre seis tecnologias renováveis incluindo o potencial de crescimento de cada uma delas: bioenergia, solar, eólica, oceânica, geotermal e hídrica.
Quatro cenários para a utilização dessas tecnologias até 2050 foram analisados exaustivamente, incluindo implicações ambientais e sociais. Assim, foi possível traçar perspectivas para caminhos alternativos de investimentos.
No mais otimista dos cenários, as renováveis chegam a responder por 77% da necessidade mundial, gerando 314 dos 407 Exajoules produzidos por ano. Para se ter uma idéia, 314 Exajoules é mais do que o triplo da energia produzida nos Estados Unidos em 2005.
Os pesquisadores também apresentam modelos de como as renováveis podem ser integradas aos sistemas energéticos, incluindo o desenvolvimento de redes inteligentes e benefícios para os usuários.
Todos os quatro cenários, apesar de trabalharem com dados diversos, prevêem que as renováveis irão invariavelmente ocupar uma fatia cada vez maior da geração de energia.
“Este relatório é um convite para que os governos iniciem uma mudança radical nas suas políticas e assim dar mais atenção às renováveis. Com a aproximação da Conferência do Clima (COP 17) na África do Sul, a responsabilidade dessa transformação está com os líderes mundiais”, concluiu Teske.
O Special Report on Renewable Energy Sources and Climate Change Mitigation estará disponível a partir do dia 31 de maio nesta página.
(publicado originalmente no site CarbonoBrasil).
Fabiano Ávila