Professor da Udesc Laguna participa de gravação da BBC sobre interação entre botos e pescadores
Laguna – O curso de Engenharia de Pesca, oferecido pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Laguna, acompanhou na última semana os trabalhos da emissora britânica de televisão BBC no Canal da Lagoa de Santo Antônio dos Anjos, onde foram gravadas imagens da interação entre pescadores artesanais e golfinhos, conhecidos como botos-da-tainha na região.
Durante dois dias, o professor da Udesc Laguna Fábio Daura Jorge, que estuda o comportamento dessa espécie de botos no município desde 2006, auxiliou as filmagens e foi entrevistado sobre os projetos que desenvolve na universidade para pesquisar a chamada “pesca cooperativa”.
“A equipe da BBC, que veio com oito pessoas, achou a interação fantástica e ficou completamente fascinada, apesar de não conseguir ver o ápice dessa relação entre botos e humanos devido às condições climáticas, que não estavam muito favoráveis”, ressalta Daura Jorge. “Mesmo assim, eles saíram bem satisfeitos e demonstraram interesse por todos os detalhes.”
Trechos do material gravado estarão em uma edição do programa “Planet Earth” (Planeta Terra), que será transmitida partir de outubro em um dos canais da emissora, o BBC One.
A BBC já filmou a pesca cooperativa de Laguna em 2009, quando fez gravações para o documentário “Human Planet” (Planeta Humano), que abordou diversas interações entre pessoas e animais ao redor do mundo.
Cooperação única no mundo
De acordo com o docente da Udesc Laguna, existem interações com a mesma espécie de botos no Rio Grande do Sul e com outras espécies na Mauritânia (África) e no Mianmar (Ásia), mas nenhuma delas se compara à de Santa Catarina. “Pelo número de botos e de pescadores, a interação de Laguna é mais intensa e interessante”, afirma.
Os 53 golfinhos do Complexo Lagunar do Sul de SC, que é formado também pelas lagoas de Imaruí e Mirim, vivem separados em dois módulos (grupos) e o menor, com 20 membros, coopera com os pescadores, inclusive com a participação dos filhotes.
Segundo Daura Jorge, o comportamento do boto indica o momento de se jogar a tarrafa, o que garante ao pescador mais capturas de peixes e sugere benefícios também para os botos. A pesca ocorre o ano inteiro, porém, a interação é maior quando as tainhas aparecem.
O professor estima que a cooperação exista há, no mínimo, cem anos, mas faltam registros históricos que informem as datas com precisão. Para preencher essa lacuna, ele criou o projeto de extensão Tarrafa do Saber, no qual dois alunos de Engenharia de Pesca começaram a levantar dados desde março.
Daura Jorge (com tarrafa) é filmado pela BBC
Foto: Rodrigo Brüning Schmitt/Ascom Udesc
Universidade do Estado de Santa Catarina
ai/UNO